A divindade De Jesus e a Biblia



Jesus nunca afirmou que era Deus, ninguém encontrará no evangelho uma só palavra sua em tal sentido. O título que Ele habitualmente se atribuía era o de “Filho do Homem”, que figura 80 vezes nos Evangelhos (30 no de Mateus, 14 no de Marcos, 26 no de Lucas e 10 no de João). Poucas vezes, e em geral de forma indireta, Ele se autodenominou “Filho de Deus”, título este que os discípulos, outras pessoas e até Espíritos impuros às vezes lhe atribuíam. É de notar que ser “filho de Deus” não é ser Deus, como se infere de João 1:12: “A todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.”
Os teólogos costumam apresentar como prova da sua divindade a frase “Eu e o Pai somos um” (João 10:30), se atentar para o fato de que logo adiante Ele incluiu na mesma categoria os apóstolos, quando afirmou: “Pai Santo, guarda em teu nome aqueles que me deste, para que sejam um, assim como nós” (Jo. 17:11) e “para que também eles sejam um em nós” (Jo, 17:21).
Cumpre ter em vista, outrossim, que no mesmo episódio acima citado, quando os judeus o acusaram de “se fazer Deus a si mesmo” (João 10:33), Ele encerrou a discussão afirmando: “Se a própria lei chamou deuses aqueles a quem a palavra de Deus foi dirigida, como dizeis que blasfema aquele que o Pai santificou e enviou ao mundo, porque diz: “Sou filho de Deus”? (João 10:36).
Em vários outros trechos Ele se proclamou um “enviado de Deus” (João 4:34, 5:24, 6:29; 6:44; 7:29; 8:26; 12:45, 17:3) e chegou a afirmar: “Porque eu desci do Céu, não para fazer a minha vontade, mas a daquele que me enviou” (João 6:38). claro que um enviado é sempre inferior àquele que o envia. Ele se atribuiu também vários outros títulos, como sejam os de Filho, de “Mestre e Senhor”, de “Luz do Mundo”, de “Bom Pastor”, etc., mas é claro que nenhuma dessas expressões implica a pretensão de se fazer divino. Como um enviado de Deus para pregar aos homens a Verdade, Ele foi um instrumento, um meio, um caminho para se chegar a Deus, foi verdadeiramente o “pão da vida” que a Humanidade esperava para saciar sua fome espiritual.
Se João 14:9 parece roborar a idéia da divindade, logo no v.10 Jesus esclarece que faz as obras porque o Pai permanece nele e no v.12 aduz que os que cressem fariam obras até maiores, mostrando que a ação divina se patenteava nas obras de todos os que cressem, nada havendo na passagem que justifique a noção de que Jesus se reputava Deus.
Outro trecho que se supõe confirmar a doutrina da Trindade é o de 1º João 5:7/8, mas aí a interpolação é tão evidente que a própria “Bíblia de Jerusalém” (editada com aprovação eclesiástica) o resume com estas palavras: “Porque três são os que testemunham: O Espírito, a água e o sangue”, aduzindo em nota de rodapé que as frases restantes ‘não constam dos antigos manuscritos, nem das antigas versões, nem dos melhores manuscritos da Vulgata, parecendo ser uma glosa marginal introduzida posteriormente.” (N.T., 6ª ed. pág. 649 (grifo nosso).
Paulo nunca chamou Jesus de Deus, embora pregasse a unidade de caráter entre ambos. Segundo o teólogo anglicano WILLISTON WALKER “a tradução de Rom. 9:5 não deve ser considerada paulina” (“Hist. da Igr. Cristã”, 2ª ed. pg. 56). O mesmo se pode dizer de Tito 2:13, “do qual não é possível uma interpretação segura”, segundo o teólogo KARL SCHELKLE, em sua “Teologia do Novo Testamento”, ed. Loyola, pg. 218.
O que se observa através da História, é uma tendência para considerar “deuses” aqueles que se destacam dos homens comuns por sua sabedoria, sua autoridade ou sua superioridade moral. Em Êxodo 7:1 lemos que “Jeová fez de Moisés um deus diante do Faraó”. Os próprios apóstolos, em certas ocasiões, foram tidos por deuses (Atos 14:11, 28:6). Veja-se também 1º Cor. 8:5.
“No mundo antigo havia muitos filhos de deuses. No Oriente antigo os reis eram tidos como gerados pelos deuses. Na mitologia grega os deuses geram filhos com mulheres humanas. Em Roma os imperadores eram divinizados depois de sua morte. Gênios que superavam a média humana (políticos, filósofos) eram venerados como divinos, ou filhos de Deus. O sentimento antigo percebia no extraordinário e imenso a revelação do divino. Além disso a Estoa ensinava, em outro sentido, a filiação divina de todos os homens” (Epicteto 1, 3, 1). A história das religiões acha que esta mentalidade antiga contribuiu para que Jesus fosse venerado como Filho de Deus.” (KARL H. SCHELKLE, em “Teologia do Novo Testamento”, ed. Loyola, 1978, pg. 205).
Neste sentido, ninguém mais do que Jesus merece para nós o título de Deus, como o reconheceu o apóstolo Tomé (João 20:28). Ele foi, com efeito, a mais perfeita das criaturas que jamais pisaram neste planeta, nele se manifestou “corporalmente toda a plenitude da divindade” (Col. 2:9), pois em nenhum outro homem se apresentaram mais excelsas a sabedoria e a virtude. Mas foi precisamente isso, uma criatura de Deus que atingiu a máxima perfeição, ao ponto de gozar de íntima comunhão com Deus, daí o ter dito: “Quem me vê a mim, vê também o Pai” e “O Pai está em mim e eu no Pai” (João 14:9,10) e “Glorifica-me, Pai, com a glória que eu tinha contigo antes que houvesse mundo” (João 17:5). Mas Ele também disse: “Eu rogarei ao Pai” (João 14:16 e 16:26) e o que roga evidentemente é inferior ao rogado. Ele também afirmou: “O Pai é maior do que eu” (João 14:28).
Ora, raciocinemos: Se Deus vem criando de toda a eternidade (e nem se conceberia um Deus inativo), é natural que os Espíritos criados no que para nós pode ser definido como o “princípio dos tempos”, ou seja, há milhões e milhões de anos, todos eles, ou quase todos, já devem ter atingido o grau máximo da perfeição, situando- se na categoria dos “Espíritos Puros”, em gozo de plena comunhão com o Criador. Eles são, portanto, os colaboradores na obra de Deus, os seus auxiliares diretos, aqueles que tanto no Velho como no Novo Testamento (e por que não nos tempos atuais?) são chamados de ANJOS. A unidade na criação é a característica do nosso Pai e só ela pode espelhar sua infinita Justiça. Seria admissível que Ele criasse os anjos como entes privilegiados, saídos de Suas mãos como criaturas já perfeitas, enquanto os Espíritos humanos saem simples e ignorantes, fadados a sofrer vicissitudes sem conta, para um dia poderem alcançar a bem-aventurança eterna? Se um anjo disse a João: “Não te ajoelhes, pois eu sou conservo teu e de teus irmãos, os profetas” (Apoc. 22:9), não foi por saber que a origem de todos os seres é a mesma?
E para encerrar estas considerações, indagamos: Acaso não parece muito mais grandiosa a figura de Jesus como um ser humano que, por se haver elevado ao ápice do aprimoramento espiritual, pode apresentarse aos nossos olhos como um modelo da perfeição a que todos aspiramos e que um dia, com a graça do Pai, haveremos de também alcançar? Pois se assim não fosse, por que teria Ele afirmado: “Dei-vos o exemplo para que, como eu voz fiz, assim o façais vós também”? (João 13:15).
Então, fique bem claro o nosso pensamento, segundo o qual, sendo Jesus um Espírito gerado em eras inimagináveis, e que por isso mesmo já fruia da comunhão com o Pai “antes que houvesse mundo” (João 17:5), tendo sido Ele, por certo, um dos planejadores e fundadores deste Planeta, tanto que é o seu Governador Espiritual e até chegou ao extremo de imolar-se para fazer progredir a Humanidade, o abismo que nos separa da sua excelsa perfeição é tão imenso que para nós Ele certamente é Deus, mas isto porque, sendo também uma criatura de Deus, “o primogênito de todas as criaturas” (Col. 1:15), logo “criatura” e não “criador”, pode apresentar-se como nosso modelo e nosso exemplo pelo fato de haver atingido a suma perfeição, e não porque seja “ingerado, consubstancial com Deus de toda a eternidade”, como decretou o Concílio de Nicéia no ano 325 da nossa Era.
Diz HERCULANO PIRES que:
a Igreja adotou o “credo quia absurdum”, como forma típica de coação psicológica. E a divindade de Jesus tornou-se origem de perseguições, torturas, maldições e mortes horripilantes. GANDHI, que não era cristão, após ler o Sermão da Montanha, perguntou a um missionário inglês como se explicava a contradição entre os frutos do Cristianismo em seu país e a árvore espiritual do Evangelho.(“Revisão do Cristianismo”, pg. 95).

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