Sentado o Padre Eterno em trono refulgente,
Olhar severo envia a toda aquela gente!
Enquanto anjos cantam, outros vão levando
ante a figura austera desse Venerando
as almas que da tumba emigram assustadas,
vendo o tribunal solene, majestoso,
em que vão ser julgadas.
Dois grupos são formados,
um de cada lado:
o da direita, Céu; o da esquerda, Averno;
e Satanás, ao canto, o chifre fumegante,
espera impaciente, impávido, arrogante,
a “turma” para o inferno.
Aconchegando o filho, a alma bem-amada,
e que na terra fora algo desassisada,
uma mulher se chega e a sua prece faz,
rogando ao Padre Eterno poupe do inferno
o pobre do rapaz.
Cofia o Padre Eterno a longa barba branca
e os óculos ajustando à ponta do nariz,
o olhar dirige então à pobre desgraçada
e compassado diz:
“Os anjos vão levar-te agora ao Paraíso
e dar-te a recompensa, o teu descanso eterno.
Ali desfrutarás felicidades mil,
porém teu filho mau irá para o inferno.”
Um anjo toma o moço e o leva a Satanás;
porém a pobre mãe, ao ver partir o filho,
aflita, corre atrás!
E ao incorporar-se às hostes infernais,
eis grita o Padre Eterno em tom assustador:
“Mulher, para onde vais?!!!”
E o que passou-se, então,
ninguém esquece mais:
“Eu vou para o inferno, ao lado do meu filho,
a repartir comigo a sua desventura!
As lágrimas de mãe, as gotas do meu pranto
acalmarão no Averno a sua queimadura!”
“Eu deixo para ti esse teu Paraíso,
essa mansão celeste onde o amor é surdo!
Onde se goza a vida a contemplar tormento,
onde a palavra amor represa um absurdo!”
“Entrega esse teu Céu às mães malvadas,
vis, que os filhos já mataram para os não criar,
pois só essas megeras poderão,
no Céu, ouvir gritar seus filhos sem se consternar!”
“Desprezo esse teu Céu! O meu amor é grande!
Imenso! Assaz sublime! E posso te afirmar
que se não te comove o pranto lá do inferno,
e os que no Averno estão são todos filhos teus,
o meu amor excede o próprio amor de Deus!”
E ante o estupefacto olhar do Padre Eterno,
a mãe beijou o filho
...e foi para o inferno...
(Benedito Godoy Paiva)
(Anuário Espírita de 1981)
(Anuário Espírita de 1981)
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