A Divindade de Jesus e Lógica

Iniciaremos com uma breve digressão sobre Astronomia, assunto decerto já bem conhecido dos leitores, mas que servirá para lembrar-lhes a exata posição no Cosmos, do homem e do minúsculo planeta que ele habita. Cingimo-nos, nesta parte, a um interessante trabalho divulgado pela extinta revista “LIFE” há mais de 20 anos, alguns de cujos conceitos, portanto, poderão já ter sido modificados.
Como a Terra tem 12.756 km de diâmetro equatorial e dista em média 150 milhões de km do Sol, as dimensões do nosso sistema planetário podem à primeira vista parecer estupendas, principalmente se considerarmos que o planeta mais distante do Sol, Plutão, dista deste cerca de 6 bilhões de quilômetros. Mas o nosso Sol, embora com um volume 1,3 milhões de vezes maior que o da Terra, não passa de uma estrela de tamanho médio. Se o imaginarmos como uma bola de 15 cm. de diâmetro, a Terra distaria dele uns 17 metros e o planeta Plutão cerca de 1 km. Pois bem, as estrelas mais próximas ficariam a 5 mil km e mesmo estas são consideradas vizinhas do Sistema Solar, tal a vastidão do Espaço.
Em noite clara podem ser vistas a olho nu cerca de 6 mil estrelas, metade em cada hemisfério. Com um pequeno telescópio distinguem-se mais de 2 milhões, enquanto o grande telescópio do Monte Palomar permite captar a luz de bilhões. À distância parecem formar verdadeiros aglomerados porém na realidade brilham como luzeiros solitários, separados por milhões de quilômetros quais naves a flutuar num oceano vazio.
As dimensões do Universo são tão vastas que não podem ser medidas pelos meios comuns, por isso recorre-se a uma unidade especial, que é o “ano-luz”. Aliás, é bom lembrar que todas as medidas do tempo vêm do espaço, sendo na realidade dimensões espaciais. Por exemplo: O que chamamos “uma hora” é, com efeito, um arco de 15 graus na rotação diária, aparente, da esfera celestial. Então, o “ano-luz” é o espaço percorrido pela luz no tempo de um ano. Sabendo-se que a velocidade da luz é de cerca de 300 mil km por segundo, segue-se que o “ano-luz” corresponde a quase 10 trilhões de quilômetros. Pois bem: enquanto o Sol está apenas a 8,2 “minutos-luz” da Terra, a mais próxima estrela (Alfa, do Centáuro) fica a 4,4 anos-luz da Terra, a gigante vermelha Betelgeuse (da constelação de Orion) a 300 “anos-luz” e a gigante azul Riegel (também de Orion) leva 540 anos para alcançar nossos olhos.
Vejamos outro aspecto dessa desconcertante noção de “espaço-tempo”: Quando olhamos para o céu em uma noite estrelada, na realidade estamos olhando “para trás no tempo”. Vemos a luz de estrelas como elas eram há milhares, talvez milhões de anos. Certamente nenhuma delas está mais nos pontos onde as vemos, algumas podem até ter sido totalmente extintas. Mesmo a mais próxima de nós (Alfa, do Centáuro), não a vemos como é hoje e sim como era há pouco mais de 4 anos. O que realmente vemos é o fantasma de uma estrela que emitia luz há 4 anos; se ela continua, ou não, brilhando agora, só poderemos saber dentro de mais 4 anos. Então, para descrever a posição de uma galáxia, não basta fixá-la nas três dimensões do espaço, mas também numa de tempo. Daí o dizer-se que o Universo é quadridimensional sendo a 4ª dimensão o tempo.
Mas todas essas estrelas a que nos reportamos até agora podem ser consideradas vizinhas próximas, e suas distâncias equiparam-se a centímetros, quando medidas em escala cósmica. Foi só nas últimas décadas que se percebeu que o nosso Sistema Solar é apenas uma unidade infinitesimal na borda externa de uma galáxia a que denominamos “Via Láctea”. E esta mesma não passa de uma unidade num aglomerado de galáxias ligadas pela gravitação, movendo-se ininterruptamente através do Espaço.
Essa faixa luminosa que avistamos em noites claras cortando o firmamento de norte a sul, só em tempos recentes veio a ser conhecida pelo que de fato é: um estupendo caudal de campos estelares integrando a parte visível da galáxia em que se move o nosso Sistema Solar. A dificuldade em apreender a estrutura da “Via Láctea”, é que nos achamos “dentro dela”. Só nos últimos tempos os astrônomos puderam cientificamente estabelecer que o que vemos da “Via láctea” é apenas parte do arco interno de um colossal aglomerado de estrelas, em forma de disco, similar às galáxias do espaço externo, O nosso planeta está situado a 30 mil “anos-luz” do centro da galáxia, e dele podemos divisar apenas uma pequena fração dos bilhões de estrelas que ela contém. O diâmetro da “Via Láctea” é de mais de 100 mil “anos-luz”, o que significa que a luz, à assombrosa velocidade de 300 mil quilômetros por segundo, leva mais de 100 mil anos para percorrer a galáxia de uma extremidade à outra.
A galáxia também gira, completando uma revolução a cada 200 milhões de anos, não apenas levando com ela o nosso Sistema Solar com velocidade superior a 1 milhão de km por hora, como arrastando um enxame externo de aglomerados estelares, cada um com centenas de milhares de estrelas, todas girando em volta do centro da galáxia.
Mas a “Via Láctea” não é senão um membro de um agregado cósmico infinitamente maior, denominado “Grupo Local”, composto por cerca de 20 sistemas galácticos unidos pela energia gravitacional e com um diâmetro de uns 3 milhões de “anos-luz”. Próximo a uma das extremidades desse super-sistema gira o luminoso disco da “Via Láctea”, enquanto na extremidade oposta viaja a grande espiral de sua galáxia-irmã, Andrômeda. O “Grupo Local” abrange também 6 pequenas galáxias elípticas e mais as informes “Nebulosas Magelânicas”, além de algumas distantes espirais, perdidas no imenso vácuo. Remotas como se encontram, estão todas unidas por uma ignota energia gravitacional e revolucionam ao redor de um eixo desconhecido, situado em alguma parte, entre a Via Láctea e Andrômeda.
Mas ainda não é tudo: Volvendo o telescópio para além das mais distantes nebulosas do Grupo Local, descobre-se um crescente número de enevoadas manchas luminosas, suspensas no Vácuo como tênues teias de aranha. São as chamadas “Galáxias Externas”, ou “Universos ilhas”, cada uma delas composta por bilhões e bilhões de estrelas, mas tão profundamente entranhadas no abismo do espaço que a luz que emitem leva milhões de anos para chegar até nós. Só no interior da Ursa Maior, fracos bruxuleios revelam uma concentração de mais de 300 galáxias. Junto dela o nosso Grupo Local seria um aglomerado anão.
Em geral as galáxias do espaço externo tendem a aglomerar-se em comunidades de cerca de 500 — galáxias de galáxias — unidas pela gravidade e, não raro, interpenetrando-se sem que jamais ocorra colisão, uma vez que as suas componentes estão separadas entre si por trilhões de quilômetros. Os astrônomos calculam que cerca de 1 bilhão de galáxias se encontram ao alcance dos nossos maiores telescópios, apresentando 3 tipos: Galáxias espirais (80%) Galáxias elípticas (17%) e Galáxias irregulares 3%).
Não foi senão a partir do início deste século que o foco da Astronomia se deslocou dos planetas para as estrelas e só nos últimos 40 anos ele passou a abranger as galáxias do espaço externo. Portanto, é certo que os conceitos da moderna Astronomia não eram conhecidos dos nossos avós. Então, resulta evidente que os princípios aceitos como verdade ha 100 ou 200 anos não são os mesmos princípios agora  reconhecidos como firmemente ancorados nos conhecimentos científicos.
Ora, até 100 ou 200 anos o homem se acreditava o centro do Universo, compenetrado da sua magnificência como o “Rei da Criação”. Para ele, a Terra fora criada no ano 4004 antes de Cristo, o homem formado de barro e os astros fincados como luzeiros no céu apenas para lhe proporcionar luz e deleite. Se a Terra era plana, com o céu por cima e o inferno por baixo, foi até lógica a teoria de que o Criador viesse encarnar neste mísero planeta, para salvar a Humanidade condenada pelo pecado de Adão. Ora, que o Onipotente tenha o poder de fazê-lo; quem duvida? Mas em face da lógica e com os conhecimentos científicos de que hoje dispomos, não se configura demasiado pretensiosa essa teoria?
Se Deus nunca teve princípio, é perfeitamente razoável admitir que Ele venha criando de toda a eternidade. Quantos milhões de sistemas não foram atraves de milênios sem fim, elaborados pelo seu pensamento criador? E com tantos e tantos bilhões de planetas espalhados pela imensidão do Espaço quantos não haverá palpitantes de vida com humanidades em diferentes estagios de evolução muitas delas sem dúvida mais adiantadas que a nossa? Vejamos como idealiza o caso o eminente cientista CHARLES RICHET:
“Sei que no espaço infinito milhões de planetas giram ao redor de outros tantos sóis. Conheço um desses planetas, a Terra, e vejo que é habitado por seres inteligentes. Como poderei adimitir que só ele goza essa vantagem? (se é vantagem). Eis aqui um saco contendo 1 milhão de bolas cujas cores ignoro. Tiro uma ao acaso e vejo que é vermelha. Sera lógico supor que entre as 999.999 restantes não haja mais nenhuma dessa cor?” (“ A Grande Esperança”, 2ª ed. Lake, 1976, pg. 19).
E aqui cabe a grande indagação: Por que teria o Criador do Universo de punir o “pecado” cometido pelo mais ignorante dos seres, no mais rudimentar dos mundos? Porque teria o próprio Deus de descer de sua glória para encarnar num orbe tão desprezível, a fim de, com o seu próprio sangue, “ resgatar” os “erros” de criaturas tão frágeis? Desculpem os irmãos, mas não tem lógica!
Tal idéia poderia ter sido, não diremos razoável, mas pelo menos compreensível, em épocas passadas, ao tempo em que se acreditava a Terra o centro do Universo e os seus habitantes a obra máxima do Criador; mas nos termos da Cosmogonia atual, convenhamos em que certas doutrinas estão a exigir urgente revisão, para que não resulte deslustrada a inteligência dos seus profitentes.
E é bom que essa revisão se faça logo, porque se a qualquer momento os contatos imediatos do terceiro grau comprovarem aquilo que todos já intimamente admitimos, ou seja, a existência de outras humanidades com outros tipos de civilização, como é que vão expliçar essas complicada teorias do pecado original da encarnação do Deus-Filho em nosso planeta?
Mas este é apenas um dos aspectos do problema da divindade de Cristo. Existem vários outros, que examinaremos em seguida.

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